Lendo o livro MULHER, ROUPA, TRABALHO: COMO SE VESTE A DESIGUALDADE DE GÊNERO, de Thais Farage e Mayra Cotta, me deparei com o seguinte trecho:
Muitas das minhas clientes são mães, e sou mãe também. Entendo de onde vem essa coisa da aparência da mãe.
É natural que com a maternidade, nossas vidas deem uma cambalhota. Nos vemos do dia pra noite responsáveis por uma outra vida, com um novo trabalho com jornada de 24h diárias, sem férias, sem remuneração. E, apesar de, na maioria dos casos, termos uma criança criada por um pai e uma mãe, nossa estrutura de sociedade nos leva a deixar a maior parte da carga - física e mental - pras mães. E não só isso: parece que se a mãe não se doar 100% pra esse novo papel de ser mãe, não está sendo mãe direito. Mesmo quando a mãe tem um trabalho fora igual ao do pai, a cobrança vem pra mãe.
Não é dado o direito à mulher que tem filho de querer ser trabalhadora, de querer sair com as amigas, de querer namorar, de querer ser mulher. Ela tem que ser mãe em primeira instância, e por isso tem que se "vestir de mãe". Tem que se desprover de seus gostos pessoais, tem que pensar na roupa que melhor atende à criança que a ela. Não pode ser sexy, não pode saia curta, não pode salto nem maquiagem. Pois tudo isso diz que ela está dedicando parte do seu tempo a alguém que não é o bebê. Já o pai pode sair pra trabalhar com um terno que não dá mobilidade pra pegar a criança no chão. Pode até ter a noite do pôquer com os amigos. Pode estar com barba feita, cabelo lavado, afinal de contas a ele não é esperado que dedique todo o seu tempo a tarefas de cuidado do outro. Ele é quem provém e traz dinheiro pra casa. Mesmo quando não é. Mesmo quando ele ganha menos que a mulher.
Mas não precisa de muito pra saber que uma mãe que não consegue ter tempo de cuidar de si mesma não se sustenta. Muitas vivem assim pra todo o sempre, mas não significa algo positivo. Muitas mulheres me procuram ao perceber que, ao vestir a roupa de mãe, se perdem de si mesmas. Querem se redescobrir. Se vestir delas mesmas. Mas após se tornar mãe, é impossível ser a mesma de antes. É uma nova versão, atualizada, que representa quem ela é por inteiro: mulher, empreendedora, advogada, professora, bailarina, alegre, extrovertida, tímida, namoradeira. Caseira, rolezera, sociável, sexy, reservada, gótica, romântica. Esposa, irmã, amiga, cunhada, tia. Mãe.
Comments